Desde que me conheço por gente, sou apaixonada por moda. Eu era uma criança, talvez uma das únicas, que trocava os brinquedos pelas roupas. Fui crescendo, o tempo passando e pouca coisa mudando. O saldo de tudo isso? Um guarda-roupa explodindo; a promessa de um ano inteiro sem comprar roupas, sapatos ou afins; a busca por uma nova consciência e um blog para compartilhar essa história com você.


terça-feira, 25 de maio de 2010

Um quadro no quarto

Quando eu era criança tinha um quadro no meu quarto que dizia “A maior riqueza é contentar-se com pouco”, com a foto de uma menininha com roupa de camponesa levando na mão uma cesta de palha cheia de flores. Eu o achava muito bonitinho, uma frase de efeito, mas a verdade é que nunca soube o que era me contentar com pouco. Hoje em dia, a julgar pelos valores sociais modernos, nenhuma mãe em sã consciência colocaria um quadro desses na parede do quarto do filho, a não ser que fosse, digamos assim, meio bicho grilo. Se contentar com pouco é querer pouco da vida, é pensar pequeno; quem se contenta com pouco é medíocre, somos criados para querer sempre mais e nunca se satisfazer. No máximo temos uma satisfação por um momento bem breve. Acha exagero? Pois garanto que você já comprou uma blusa pensando em comprar uma calça, já comprou um carro pensando no próximo, já quitou uma dívida pensando em fazer uma nova. Se você não fez, posso assegurar que eu já fiz tudo isso e ainda faço.

Semana passada recebei um link de várias pessoas diferentes com uma reportagem sobre um economista inglês, Mark Boyle, de 30 anos, que decidiu viver durante um ano sem dinheiro, a fim de demonstrar que, ao contrário do que é consagrado pela economia capitalista, é possível viver sem gastar. Passados 18 meses, ele diz que está tão feliz com a experiência que não pretende voltar para o velho estilo de vida. Fiquei com a história na cabeça a semana toda, fiquei até com dificuldade de escrever por achar que o que eu me propus a fazer é insignificante dentro da necessidade de desaceleração de consumo que o mundo precisa. Mas daí, pensando que tudo começa com um primeiro passo, lembrei que minha amiga Zana, motivada pelo meu blog, decidiu ficar três meses sem gastar. Tudo bem que eu acredite que essa iniciativa veio mais pelo susto que ela levou com a fatura do cartão de crédito do que propriamente pelo meu blog, mas fiquei feliz, por ela e por mim.

Na verdade, qualquer pessoa que se proponha pode fazer a diferença. E para isso não precisa ser tão radical quanto o Boyle, mas uma iniciativa, um gesto, um abrir mão de algo pode já ser suficiente. Foi pensando única e exclusivamente em mim que comecei esse blog, mas é pensando cada vez mais no todo que continuo, e talvez com isso um dia consiga descobrir o verdadeiro significado de “A maior riqueza é contentar-se com pouco”.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Balanço da semana

Já se passaram os sete primeiros dias e, segundo a minha amiga Mari, promessa é que nem regime: a primeira semana é a mais difícil. Adoro esse otimismo, mas quando se trata de moda, difícil mesmo são as semanas das liquidações. É uma salada de fruta de sentimentos, como euforia, êxtase, culpa, arrependimento, desespero e por aí vai... Mas o que importa é que no balanço geral essa semana foi realmente bem tranquila. Na verdade, ficar uma semana sem comprar não é um grande mérito para ninguém, eu mesma já fiquei várias e não sofri. A diferença é que eu sabia sempre que em algum momento um mês novinho iria começar e eu poderia gastar novamente. O legal dessa vez é que, mesmo sabendo que isso não vai acontecer - pelo menos não tão cedo -, o fato não me preocupou. Ok, eu sei que isso é somente por enquanto, mas estou realmente vivendo um dia de cada vez.

Essa semana fui ao shopping ver Alice, que por sinal tem um figurino lindo, de enlouquecer. Quando saí do cinema, em nenhum momento sofri ao olhar uma vitrine, e quando fui embora me senti realizada. O que me deu forças para que eu me sentisse assim? Foi ter criado esse blog: ele realmente me deu um horizonte, não só para provar a mim que consigo, mas porque a cada dia me descubro nele de uma forma diferente.

Não esperava ter uma resposta tão positiva das pessoas que estão lendo. Algumas postam seus comentários, mas muitas vêm por MSN, email, facebook ou até pessoalmente parabenizar a minha iniciativa. Isso me realiza, é muito bom saber que algo que eu, Victória, produzo tem relevância para as pessoas. A gratificação que tenho agora nenhuma roupa poderia proporcionar e isso realmente não tem preço, não mesmo. Com isso, ou por isso, começo a entender melhor, só um pouquinho melhor, o bom de encontrar a satisfação em você e não naquilo que você deseja. Pode parecer até meio batido esse tipo de reflexão, mas nesse momento é muito sincero. E isso faz toda diferença.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

verdade

Outro dia estava vendo um filme tipo B e tinha um alcoólatra que tentava se curar do vício; para isso, um dos passos era pedir desculpas às pessoas a quem havia feito mal. Daí refleti, me inspirei no filme, respirei fundo e fui conversar com o Bruno: precisava contar a ele que desde que moramos juntos compro umas roupinhas escondidas. Que por diversas vezes escondi uma sacolinha dentro da bolsa, no banco de trás do carro, no porta-malas, ou às vezes até fazia uma entrada rápida e rasteira em casa para esconder a prova do crime. Enfim, fiz mil artimanhas das quais não me orgulho nem um pouco.


Bom, a conversa não foi fácil, achei que ele iria ficar feliz por eu contar a verdade, mas ele ficou muito chateado com a mentira, ainda mais porque construímos uma relação pautada na verdade. Para mim isso era uma mentirinha boba, na verdade nem era mentira e sim só uma omissão sem importância. Tentei argumentar que a maioria das mulheres fazem isso, inclusive as minhas amigas.


É quase como quando você é criança e quer esconder alguma coisa errada dos seus pais: eu não estava disposta a ouvir que eu não precisava gastar com roupas, que mal tinha onde guardar as que já tinha, ou que era importante para ele confiar que estávamos juntos no projeto de economizar para tocar adiante nossos planos. Racionalmente eu concordava, mas quando via uma blusinha linda falando para mim "me compra, me compra" não conseguia resistir; e se estivesse em promoção, então era quase um trabalho de caridade com aquela peça que ninguém tinha dado bola até eu, a humanitária, a levar para casa.


Enquanto discutíamos eu lembrava de uma amiga, ouvia ela me falando que não se conta essas coisas para os homens nem sob tortura, porque eles nunca vão entender. Eu concordo com ela, os homens não têm essa capacidade de compreensão da mulher. Como explicar para eles que fazer uma produção, se olhar no espelho e se achar linda é como conquistar o mundo? Pode até ser um prazer momentâneo, mas é uma delícia.


Enfim, fico feliz de ter dito a verdade, não que isso pesasse na minha consciência, mas entendi que não devo nada para ninguém (exceto para o cartão de crédito), nem com quem divido a cama, e antes de ser sincera com os outros preciso ser sincera comigo mesma.


terça-feira, 11 de maio de 2010

Opinião de amiga

Você tem uma ideia, acha que é a ideia do ano, uma superideia, fica emocionada e o que você faz? Corre para contar para suas amigas, é claro.

Falando muito rápido você diz:
- Gurias, tive uma superideia: percebi que estou fazendo tudo errado, preciso parar com esse consumismo por roupa; então decidi fazer uma promessa e ficar um ano sem comprar nada! Mas para isso dar certo preciso de testemunhas, então decidi narrar toda essa jornada num blog.

O que você espera? Uma reação sincera:
- Ai Vicky, olha pra ti (to olhando), tu acha mesmo que tu consegues ficar um ano sem comprar roupa? (Tá, na verdade não esperava tanta sinceridade assim.)
- Acho, acho sim, acho mesmo, acho muito. Na verdade não acho, tenho certeza.

Bom, mas o melhor é que amiga que é amiga tem liberdade de falar o que pensa e eu fico muito feliz que as minhas tenham essa liberdade. E não acho que elas não acreditam em mim, mas querem saber até onde estou comprometida. Fazem o papel de advogadas do diabo e eu agradeço muito.

Acabo me convencendo a cada momento que a ideia é boa e vou criando mais vontade de me superar, de superar as expectativas, não pelos outros, mas para provar a mim mesma que consigo fazer qualquer coisa que eu me proponha. Sei que ainda é muito cedo para falar nisso, afinal estou só há dois dias sem comprar roupa. No domingo, fui no shopping fazer as compras de despedida com a minha amiga Tita e comprei duas blusas, um blusão, uma saia e um sapato. Nada que eu precisasse, é claro, mas era despedida né?!

segunda-feira, 10 de maio de 2010

O Desafio

Meu nome é Victória, tenho 27 anos, sou gaúcha, e moro em Floripa. Estou começando esse blog pois me propus um desafio e gostaria de compartilhar essa experiência com todos: resolvi que vou passar um ano sem comprar roupa. Isso já parece difícil para qualquer ser humano que seja um pouquinho vaidoso, não é? E se for mulher, o grau de dificuldade se eleva ao cubo; se você for mulher apaixonada por moda e descontrolada por compras, isso se torna uma missão impossível! Pois é, essa sou eu e, por mais incrível que possa parecer, estou disposta a encarar essa provação.

Moro com o Bruno, meu namorado, que ao contrário de mim não esta nem aí para o que usa, gosta das camisetas mais velhas e desbotadas que você pode imaginar e, mesmo eu colocando algumas bem feias lá no fundo do armário, bem escondidinhas, ele sempre dá um jeito de encontrar. Ele odeia comprar roupa. Deve ser por isso que foi perdendo espaço do seu guarda-roupa, e eu ocupei 3 das 6 portas que ele tem no armário. Bom, até aí tudo bem normal, se eu já não tivesse o meu próprio armário todo ocupado, além de uma arara de vestidos jogada no meio do quarto e mais um closet cheinho de roupa. Nossa, colocando em números sou obrigada a concordar com ele, eu tenho muita roupa mesmo. É por esse motivo que decidi entrar nessa abstinência e provar que eu não sou viciada em compras. Ainda.

O fato decisivo para esse desafio foi uma reportagem no Jornal Hoje, em que me encaixo perfeitamente no perfil das pessoas compulsivas por compras. Vi que existem até grupos de ajuda para essas pessoas. Graças a Deus, no meu caso, eu ainda tenho um pouco de autocontrole (lê-se: um cartão de crédito com limite baixo). Para garantir que consigo ficar 365 dias sem fazer nenhuma comprinha, resolvi fazer uma promessa muito importante, para não ter perigo de cair em tentação. A promessa eu vou contar ao final dos benditos 365 dias.

Também coloquei no papel uma média do que gasto com roupa por mês vs. o meu salário, e entendi perfeitamente por que eu sempre estou reclamando que não tenho dinheiro. Descobri que mesmo me achando uma ótima administradora, administrei muito mal o meu dinheiro. Vou dar um exemplo: eu sonho em ir para Paris, eu poderia ter feito essa viagem, na verdade poderia ter feito várias viagens, ou talvez economizado, ou ainda gasto mais com a minha casa e por aí vai, mas resolvi gastar tudo no shopping. Okei, okei, okei, também não adianta ficar chorando pela pitanga derramada, o que importa é daqui para frente. E depois disso, em um ano eu posso estar curada ou, no mínimo, um pouquinho mais controlada.


Decidi então compartilhar essa experiência com todas as pessoas que se identifiquem, ou não, que talvez fiquem curiosas ou achem pelo menos engraçado.

Dou a minha palavra que serei sincera e honesta com todos que aqui me lêem.