Desde que me conheço por gente, sou apaixonada por moda. Eu era uma criança, talvez uma das únicas, que trocava os brinquedos pelas roupas. Fui crescendo, o tempo passando e pouca coisa mudando. O saldo de tudo isso? Um guarda-roupa explodindo; a promessa de um ano inteiro sem comprar roupas, sapatos ou afins; a busca por uma nova consciência e um blog para compartilhar essa história com você.


quinta-feira, 24 de junho de 2010

Ninguém merece




















Devem estar me sacaneando, mandar um email de liquidação de uma das minhas marcas preferidas dizendo que está TUDO com 50 % de desconto (coisa inédita, por que até então era sempre 40%), um dia antes do meu aniversário. Só pode ser sacanagem.



quinta-feira, 17 de junho de 2010

Borboleta

Na minha casa tínhamos o hábito de sentar na beira da piscina depois do almoço, buscando o sol nos dias frios de inverno. Meus pais tomavam café e eu fazia companhia. Meu pai sempre tinha palavras sábias sobre a vida, e em um desses dias falávamos sobre a morte. Um assunto sempre tão evitado, a morte me dava medo, achava-a triste e sombria, mas nesse dia ele me deu outra perspectiva que eu jamais esquecerei. Eu pedi a ele para que não falássemos sobre esse assunto e ele me disse que eu deveria ver a vida e a morte como consequência de uma coisa muito natural e bonita. Bonita? Pediu que eu fechasse os olhos e que pensasse numa lagarta, na vida da lagarta. Disse que a nossa vida é um ciclo muito parecido com o de uma lagarta. Nós nascemos e aprendemos muitas coisas, nos alimentamos de vivências, de experiências e de sensações como amor, cumplicidade, raiva, inveja, amizade, sentimos e aprendemos a administrar os sentimentos. Quando ficamos mais velhos, aos poucos interiorizamos melhor todas essas experiências, guardando tudo isso num casulo, entendendo o que realmente merece ser guardado, o que realmente tem importância e quem realmente tem importância. Aí ficamos prontos. Prontos para largar o casulo, libertar-se do corpo de lagarta e voar como uma linda borboleta. A morte é o bater das asas de uma borboleta. Achei bonito, poético até, mas na hora não dei tanta importância para aquelas palavras; elas só vieram a fizer sentindo quando, uma semana mais tarde, meu pai sofreu um acidente e faleceu. Ele já estava no casulo e me preparou para entender o que aconteceria, e eu o agradeço.

A vida já me deu muitas coisas para guardar no meu casulo, já perdi as pessoas que mais amava. Mas, à medida que algumas portas se fecharam, janelas, frestas e até paredes se abriram. Foi assim com meu tio, que entrou cada vez mais na minha vida. Ele não tinha filhos e eu não tinha pai, nos encontramos na sorte de sermos parentes. Ele sempre cuidou de mim como uma filha e eu aprendi a amar ele como um pai, meu segundo pai. Mas há alguns dias atrás também o perdi. Ele estava doente, eu sabia que isso aconteceria, mas sempre esperei um telefonema dizendo que tudo ficaria bem, que não precisava me preocupar porque ele estaria ali por muitos anos a me incomodar. Essa ligação não aconteceu. E quando a notícia veio, me senti sem chão, sem chance de questionar se estava certo, por que já estava feito.

Senti o abandono, a ausência e, no meio de tantos sentimentos, saí para caminhar num dia de sol; andei, parei, andei novamente, parei de novo, sentei no chão, não pensei. De repente, uma borboleta pousou em mim. Sim, foi o sinal de que tudo estava bem, um alerta de que não deveria me preocupar, não precisava ficar triste. Fiquei ali sentada, ela pousada em mim, caminhando no meu braço, eu sentindo um abraço. Tão surreal e tão verdadeiro.

Fico aqui pensando que pessoa de sorte eu sou, que bom estar alerta a essas sutilezas da vida. Precisei de um tempo, uns dias para ficar ausente, dei um tempo de todos, dei um tempo de mim. Dei um tempo do blog, achei tão ridículo fazer um blog por um motivo desses. Tudo ficou meio insignificante, tudo pareceu tão sem valor, tão sem sentindo. No momento que resolvi que todas essas coisas não tinham mais importância, vi a importância que elas tinham para mim e lembrei que ainda sou uma lagarta que está apenas descobrindo a vida.