Desde que me conheço por gente, sou apaixonada por moda. Eu era uma criança, talvez uma das únicas, que trocava os brinquedos pelas roupas. Fui crescendo, o tempo passando e pouca coisa mudando. O saldo de tudo isso? Um guarda-roupa explodindo; a promessa de um ano inteiro sem comprar roupas, sapatos ou afins; a busca por uma nova consciência e um blog para compartilhar essa história com você.


quinta-feira, 17 de junho de 2010

Borboleta

Na minha casa tínhamos o hábito de sentar na beira da piscina depois do almoço, buscando o sol nos dias frios de inverno. Meus pais tomavam café e eu fazia companhia. Meu pai sempre tinha palavras sábias sobre a vida, e em um desses dias falávamos sobre a morte. Um assunto sempre tão evitado, a morte me dava medo, achava-a triste e sombria, mas nesse dia ele me deu outra perspectiva que eu jamais esquecerei. Eu pedi a ele para que não falássemos sobre esse assunto e ele me disse que eu deveria ver a vida e a morte como consequência de uma coisa muito natural e bonita. Bonita? Pediu que eu fechasse os olhos e que pensasse numa lagarta, na vida da lagarta. Disse que a nossa vida é um ciclo muito parecido com o de uma lagarta. Nós nascemos e aprendemos muitas coisas, nos alimentamos de vivências, de experiências e de sensações como amor, cumplicidade, raiva, inveja, amizade, sentimos e aprendemos a administrar os sentimentos. Quando ficamos mais velhos, aos poucos interiorizamos melhor todas essas experiências, guardando tudo isso num casulo, entendendo o que realmente merece ser guardado, o que realmente tem importância e quem realmente tem importância. Aí ficamos prontos. Prontos para largar o casulo, libertar-se do corpo de lagarta e voar como uma linda borboleta. A morte é o bater das asas de uma borboleta. Achei bonito, poético até, mas na hora não dei tanta importância para aquelas palavras; elas só vieram a fizer sentindo quando, uma semana mais tarde, meu pai sofreu um acidente e faleceu. Ele já estava no casulo e me preparou para entender o que aconteceria, e eu o agradeço.

A vida já me deu muitas coisas para guardar no meu casulo, já perdi as pessoas que mais amava. Mas, à medida que algumas portas se fecharam, janelas, frestas e até paredes se abriram. Foi assim com meu tio, que entrou cada vez mais na minha vida. Ele não tinha filhos e eu não tinha pai, nos encontramos na sorte de sermos parentes. Ele sempre cuidou de mim como uma filha e eu aprendi a amar ele como um pai, meu segundo pai. Mas há alguns dias atrás também o perdi. Ele estava doente, eu sabia que isso aconteceria, mas sempre esperei um telefonema dizendo que tudo ficaria bem, que não precisava me preocupar porque ele estaria ali por muitos anos a me incomodar. Essa ligação não aconteceu. E quando a notícia veio, me senti sem chão, sem chance de questionar se estava certo, por que já estava feito.

Senti o abandono, a ausência e, no meio de tantos sentimentos, saí para caminhar num dia de sol; andei, parei, andei novamente, parei de novo, sentei no chão, não pensei. De repente, uma borboleta pousou em mim. Sim, foi o sinal de que tudo estava bem, um alerta de que não deveria me preocupar, não precisava ficar triste. Fiquei ali sentada, ela pousada em mim, caminhando no meu braço, eu sentindo um abraço. Tão surreal e tão verdadeiro.

Fico aqui pensando que pessoa de sorte eu sou, que bom estar alerta a essas sutilezas da vida. Precisei de um tempo, uns dias para ficar ausente, dei um tempo de todos, dei um tempo de mim. Dei um tempo do blog, achei tão ridículo fazer um blog por um motivo desses. Tudo ficou meio insignificante, tudo pareceu tão sem valor, tão sem sentindo. No momento que resolvi que todas essas coisas não tinham mais importância, vi a importância que elas tinham para mim e lembrei que ainda sou uma lagarta que está apenas descobrindo a vida.

13 comentários:

  1. Lindo! Me arrepiei!

    Nem sei o que te falar. Mas vou refletir sobre o assunto, acho que ainda não estou preparada para essa transformação. To chorando só de imaginar.

    Força! Se cuida!
    Te adoro!

    Beijos
    :**

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  2. Que lindo, amiga! Nem preciso dizer o quanto você é uma pessoa abençoada. Você é muito muito especial. Como poucas. Amo você, de verdade. Beijos

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  3. Seu pai era uma pessoa muito querida e era um sábio realmente. É bom saber que ele anda voando por ai, e pousando em vc em certas ocasiões.
    Grande abraço,
    Rogério

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  4. Ai Vick!
    Não havia comentado em outros post's, pois o máximo que eu poderia te dizer é que tinha admiração pela tua atitude: se colocar em outra vibração, quebrar um paradigma, se conscientizar de um problema, olhar para si e ver uma real necessidade de mudança, é digno de muita admiração.
    Poderia tbm te elogiar e dizer que tu escreve de uma maneira que conduz a curiosidade, que da margem a imaginação, que divide sentimentos puros e sinceros.
    Mas com certeza nada irá traduzir o que eu senti ao ler esse último. De alguma forma consegui me colocar exatamente no teu lugar, com sentimento diferentes, claro, mas com a mesma sensação: a ausência!

    Borboletas são livres para voar, são coloridas. Tem várias lendas que contam a magia dela. E esse é mais um ensinamento que levarei, obrigada por dividir....

    Tenha certeza que esses dois paizões estão voando ao teu redor, te iluminando e protegendo.

    Força flor, desse jardim!

    Beijão
    Joana

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  5. Minha amiga linda...desta vez tú me deixou sem palavras...sem saber como traduzir o que eu to sentindo...Só sei te dizer que a palavra que me vem na mente é ADMIRAÇÂO! E como eu te admiro, por tudo, por ser tão pequeninha e magrinha fiscamente e tão grande e FORTE por dentro!
    Aprendi muito com este post, ví as coisas por outro ângulo (o ângulo lindo que teu pai conseguiu mostrar)...Estamos nesta vida para aprender, pra encher nossos casulos de conhecimento e experiências, boas e ruins, alegres e trites, e tudo isso de uma maneira ou outra nos fortalece, nos faz evoluir para que mais tarde possamos voar com nossas próprias asas!
    TÚ É DEMAAAIIIISSSSS! MAS É D-E-M-A-I-S MESMO VIU?

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  6. Amiga linda, me arrepiei, chorei e me emocionei do início ao fim do seu texto... texto escrito com sábias palavras de uma mulher guerreira, uma pessoa iluminada, que apesar de todos os obstáculos... continua com essa alegria e leveza... conseguindo extrair os verdadeiros ensinamentos da vida... obrigada por fazer parte da minha vida amiga.. te amo e admiro cada dia mais e mais...

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  7. Lindassssssssssssss.... sem paravras para descrever como todo esse carinho é maravilhoso

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. Vick, fiquei com os olhos cheios de lágrimas. Estou emocionada com teu post! Adorei as palavras do teu pai sobre vida e morte, levarei-as comigo sempre porque nunca tinha visto dessa forma tão mágica. Lindas, lindas. Amada, força na peruca nessas horas difíceis, mais uma vez. Beijo bem grande...e continua escrevendo....

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  10. Vicky, amada!! A Vicky, mesmo assim lagartinha com a vida pela frente, voa mais alto do que as mais fortes borboletas!! Sim... talvez seja porque toda a lagarta carrega dentro de sí a borboleta... E a Vicky sabe disso!

    Vicky, amiga linda!! Te amo!! Lindíssimo teu texto, tua sensibilidade, teu jeito de voar...

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  11. Parabéns meu amor por trazer à tona palavras e sentimentos tão dignos de lágrimas, não de tristeza, mas de redenção e valor à vida.
    te amo

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  12. Bem Vi! Vc como nunca sabe que vivi perdas...e que até hoje para mim é muito dificil.Mas estou ai tbm descobrindo a vida...a cada dia. Vc mora no meu coração para sempre. te amo ta

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  13. Nossa, Vicky, foi o melhor post. Me emocionei e me arrepiei toda...Eu tinha recém te conhecido quando perdeu o pai..Que bom que ele conseguiu ainda te dar este aviso alguns dias antes.. depois perdeu a sua mãe, que nem citaste aqui...Foi muito difícil também. És uma guerreira, com certeza! Parabéns! Acho que teu blog passou a ser realmente relevante agora, um tema profundo! Beijos

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